domingo, 19 de agosto de 2012

Distúrbio


Ela atirou.

Inalou a pólvora
como se fosse ópio.

Ensaiou um suspiro.
Pouparei os detalhes sórdidos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Envelhecidos

Ele irá revelar o que ela teme que se revele.
E assim ele fará,mesmo que ela o fele.
Que absorva de sua pele cada gota de prazer expurgada
no momento em que se encontram os olhares.

Ele se preparou pro mundo,não para ela.
Que se preparou para tempestuosos mares.

Mas ela era tudo que ele queria.
Ele era tudo que ela não era.
Nenhum dois dois via isso 
como um elogio deveras.

Ele era sujo,desbocado.
Bebia até o amanhecer.
Ela desesperadamente tímida.
Contida até no próprio prazer.

Dois corações solitários desbravando 
 a reciprocidade amorosa .
Um procurando um caminho,
outro esperando uma rosa. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Confissão


Eu tenho um coração que me tem.
Ele teme o que não lhe convém.

Eu tenho olhos cansados.
Um conhece o outro, não ficam desamparados.

Eu tenho um sorriso triste.
Persistente, ele nunca desiste.

Eu tenho uma memória vã.
Perdida, deito-me no seu divã.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quando morri pela segunda vez


Afirmação?
Pergunta?
Confundo pontuações.
Já vi ponto final em começo de frase.
Já vi exclamação abrindo parêntese.
Não a vi fechando-o.
Isso tudo aconteceu quando morri
pela segunda vez.
Sem reticências.
Ferida por interrogações.
Só voltei por uma razão:
do meu epitáfio,
retirem a pontuação.
Deixem somente a poeira.