Ele irá revelar o que ela teme que se revele. E assim ele fará,mesmo que ela o fele. Que absorva de sua pele cada gota de prazer expurgada no momento em que se encontram os olhares. Ele se preparou pro mundo,não para ela. Que se preparou para tempestuosos mares. Mas ela era tudo que ele queria. Ele era tudo que ela não era. Nenhum dois dois via isso como um elogio deveras. Ele era sujo,desbocado. Bebia até o amanhecer. Ela desesperadamente tímida. Contida até no próprio prazer. Dois corações solitários desbravando a reciprocidade amorosa . Um procurando um caminho, outro esperando uma rosa.
Afirmação? Pergunta? Confundo pontuações. Já vi ponto final em começo de frase. Já vi exclamação abrindo parêntese. Não a vi fechando-o. Isso tudo aconteceu quando morri pela segunda vez. Sem reticências. Ferida por interrogações. Só voltei por uma razão: do meu epitáfio, retirem a pontuação. Deixem somente a poeira.
Procurei a calma da alma. Não encontrei. Olhei para as outras pessoas. Reconheci-a em algumas. Temi buscá-la em outras. Tentei olhar-me por dentro. Perdi-me no desconhecido. Joguei-me no que eu não sabia. Percebi a fuga da busca. Pensei nas esquinas da vida. Projetei um sorriso. Disse que voltaria. Assumi que não havia mais sentido. Encontrei no exílio o meu abrigo.
De grão em grão construí o belo. Moldei-o como achava certo. E como um farol o ergui. Fiz da areia rocha. Compartilhei a luz. Emprestei minha paisagem. Desmontei a guarda. Enfeitei o calabouço do meu ser. Tranquei-me lá. Libertei minha obra-prima. A matéria desfez-se. Não sei se partiu com o vento ou purificou-se na água do mar.
Ela contou os dias. Reviveu os anos. Projetou os sonhos. Entendeu-se com o corpo e o espírito para o dia de sua formatura. Preparou-se para vê-lo sentado na platéia (especialmente) para vê-la. Enfeitou um lindo vestido, coloriu o seu rosto. Realçou o sorriso. Pediu para o seu coração se acalmar, tentou poupá-lo para a hora certa. No esperado dia, quase se perdeu entre o brilho de tantas luzes. Usou-as como aliadas para procurá-lo. Esqueceu-se da cerimônia. Descobriu que ele não estava lá. Tentou conter a dor no peito. Não conseguiu. Pode chorar solenemente. Com lágrimas, assinou a ata.
Ela morreu. - De quê? - De amor. - Por quem? - Por mim. - Não acredito. - Eu juro. - Amor não mata. - Mata e é viral. O médico me deu três dias de vida.
Revisitei o passado. Surpreso, ele abriu-me a porta. Entrei ensaiando frios passos. Reconheci a mobília. Temi a nova decoração. Sentei-me querendo deitar-me. Respirei, suspirei. Forasteira, recuei para a entrada: ela não mais existia. Fui embora pela porta dos fundos. O passado não me pediu para ficar e nem me acompanhou até a saída. Despedi-me. Ele não me respondeu. Chorei sem olhar para trás. Consagrei o rito.
Nem sempre o mesmo gosto. Nem sempre o olhar exposto. Nem sempre se reconhece o gesto. Nem sempre se aceita o resto. Nem sempre se vive o presente. Nem sempre o medo é recorrente. Nem sempre se aceita e verdade. Nem sempre se vive na sobriedade.
Nem sempre se encontra a rota para o País das Maravilhas.
Mente sombria.Às vezes vazia. Propicia a oficina perfeita. A esbórnia e a sarjeta estão à espreita Por conta da tardia rebeldia a qual se sujeita não aparenta tanta tristeza. Mas sua fraqueza,nos olhos está estampada. Velada por noites de bebedeira ela estica sobre a cadeira com toda naturalidade que a intimidade proporciona. Isso ocasionalmente acontece. Sinto meu gosto em sua boca. Meu prazer em seus lábios. De um jeito tão recorrente quanto a certeza dos sábios.
Minha mãe ontem me disse que não adianta. Pois meu fim está em minha garganta. A voz que acalanta é a mesma que xinga. Depois de um Grozopio,toda mulher é linda.
Toda dor em parte é revelada. Exposta para o mundo numa ferida mal curada. Para cada coisa boa,existe outra ruim. Não vê que sou à toa?Fique longe de mim
Não vejo a luz entrar pela janela. Vejo uma cruz e velas pelos cantos. Não vejo rosas,vejo lírios brancos. E vejo um santo me puxando pela mão
Não sabe o quanto quero dizer que não.
Me leve,seja breve. Já que se atreve a descer me faça subir. Eu quero saber ou pelo menos quero ver. Quem é você,o que faço por aqui.
Ela revisitou o passado. Não se encontrou. Ensaiou a mesma despedida. Acariciou lembranças. Sentiu-se sozinha. Fumou o mesmo cigarro. Abraçou a mesma bebida. Reavaliou o preço. Chorou sem música. Desconheceu o que achava que conhecia. Reviveu a dor. Anulou-se. Olhou para o vazio que a preenchia. Tentou fugir. Clamou pelo futuro. Fez do presente uma utopia. Nesta manhã, uma foto dela (sorrindo) estampa os jornais. Não sei se reconhecerão o seu rosto. Ela veste agora, publicamente, uma conhecida palavra: Desaparecida.
Você perdeu a quem sempre te quis tanto. Me fiz de santo e por encanto me quis. Mas agora e por enquanto, não vou me fazer feliz.
Não tenho mais nada à dizer. Nem sobre a briga,nem sobre você. A insustentável leveza dor sr não me inspira. Nem mesmo a primeira vez com a irmã da Camila.
O mundo gira e continuo no mesmo lugar. Me encontro com você aonde quer que eu vá. Nos dias de mal humor sempre me procura. Pra dar um fim à sua dor,busca em mim a sua cura.
Então curo. E encontro um lugar seguro nas doses que pago. Nas mulheres que não amo. No cigarro que trago
Para olhos despidos de amor ela era ruiva. Para os dele ela era apenas feliz. Tendo ou não sentido. A vida era um momento raro e escondido. Um olhar claro,tão raro quanto a vida em Marte. Que tornou se a melhor parte de uma vida. Vez em quando esquecida por Deus. Então ele foi feliz e fez feliz os seus.
Te vejo em meu olhar perdido.
Perdida em páginas passadas.
Não consigo entender essa vida entediada.
Mas te conheço o suficiente pra saber quando está triste.
E comigo tenho a única certeza da qual não duvido.
Encontros marcados não tiveram sentido.
E não teriam mesmo se tivessem acontecido.
Meu coração, acelerado, tentava entoar uma melodia que velasse o teu sono. Meus olhos, paralisados, tentavam penetrar em teus mais secretos sonhos. Meus braços, inquietos, imaginavam-se abraçando e embalando o teu corpo. Meus lábios, sedentos, desejavam revisitar os traços do teu rosto. Eu já não sabia se era noite ou se era dia. Apenas te olhava, enquanto você dormia.
I dream and forget the pain. No loss, no gain. I only close my eyes. Can I make up the lies? It’s late, but I wait for you. Someday, we’ll be true. There, summer or fall, for my name you’ll call.
Eu a conheço há anos. Hoje, somos dois estranhos. A nossa sede se esconde. A alucinação nos corresponde. A redenção nos faz feliz. Dividimos a mesma cicatriz. Ela é a minha abstinência. O amor; a nossa penitência. A pureza dela se perdeu. O pior vício dela sou eu.
O fim. O recomeço. Dentro de mim, o que desconheço. A permanência da culpa. Minha inconsequência. Minha desculpa. As vozes do não. As trapaças do perdão. A ideologia do belo. A sensatez do paralelo. O medo da verdade. As máscaras da realidade. Os ecos da fala. O poder do que me cala.
Eu sinto a falta. Reconheço a culpa. Convido-me ao exílio. Faço desse o meu abrigo. Recorro ao espelho. Estudo o meu reflexo. Olho em meus olhos. Eles choram. Acaricio os meus pulsos. Eles me respondem. Sangram.
Eu vislumbro os movimentos dela. Enquadro-os em minha janela. Através das lentes em meus olhos palpitam os meus impulsos. Embaço-me com lágrimas quase secas. Sinto a solidão. Forjo a minha escuridão. Confidencio-me com as cortinas. Anestesio as minhas retinas. Clamo pelo meu sono. Deito nele o meu abandono.
Declarei o meu amor na receita federal. Do meu medo pedi isenção. Prestei o meu tributo, Mostrei o meu atributo. Joguei-me na boca do leão. Que seja eterno o que é anual.
Minha sombra, para mim, é bela. Sozinha, apoio-me nela. Dividimos os mesmos caminhos. Bondosa, ela acolhe os meus espinhos. Minha sombra, minha companheira. Sempre disposta, sempre inteira. Ela cuida dos meus reflexos (às vezes por demais complexos). Sob o sol ela se mostra rasa. Mas a noite ela me leva pra casa.
Eu conheço o inverso das suas palavras. As afirmativas das suas negativas. As vírgulas do seu ponto final. As exclamações das suas interrogativas e as interrogativas das suas exclamações. Ouço a ausência em suas frases. Observo o improviso da sua coesão. Reconheço a sua ambígua coerência. Encaixo-me entre os seus parêntesis. Às vezes procuro alguma preposição que nos una. Vou mais longe e anseio por dois pontos que nos expliquem. Espero que a primeira pessoa do singular se torne a primeira pessoa do plural. Finjo que sou o seu objeto direto. Tento esquecer que você é um sujeito oculto. Maravilho-me pensando em metáforas. Reconheço a sua voz, sempre passiva. Imagino-te como a minha oração subordinada. Defino-te como o meu artigo indefinido. Finjo que o seu nome não se substitui por um pronome. Tento esquecer as suas reticências. Perco-me na nossa desconhecida gramática. Um dia aprenderei a conjugação do seu verbo.
Não vejo as nuances. Visto-as. Matizo-as. Misturo o branco da paz com o negro do luto (mas não visto o cinza, apesar de conhecê-lo). Enfeito-me com uma echarpe vermelha. Atenciosa, essa empresta a sua cor para as minhas iras (nem sempre escarlates). Às vezes, perco-as no azul místico que oscila entre as cores do oceano dos teus olhos (que não são azuis). De repente, ao regressar, incorporo-me de todas as outras cores. Eu: aurora corporal.
Você foi o meu maior fascínio. Você foi o meu melhor declínio. Você foi a minha má sorte. Você foi o meu fiel consorte. Você foi o abandono que ficou. Você sempre e nunca me amou.
As palavras caladas falam. Os olhares desviados intimidam. As verdades escondidas esclarecem. Os gestos contidos se mostram. Os beijos esquecidos relembram. Os abraços perdidos se encontram. A embriaguez desvela a lucidez. O medo engana a certeza. A negação confirma o contrário. O que é mostrado se esconde. As crenças se desmentem. O que é completo se desfaz. A razão é a loucura. O fim é inacabado.
Um dia você para e pensa no que faz. Estou parado agora pois não me lembro mais. Do que me envenenava lentamente,sem pudor. Eu busco inspiração mas só a encontro junto à dor.
Perdido entre becos e buracos apertados. A arte imita a vida e o futuro é comprado. A vida me condena,com problemas me iludo. E contra os meus medos te uso como escudo.
No passado te odiei,hoje tenho gratidão. Deixei transparecer todo medo e frustração. Olhando quem sou agora,minha certeza está a milhão de lágrimas corridas ou simples declaração.
Nunca fui quem sempre de tudo sai ileso. Mas agora sinto em meus ombros todo o peso de partir e deixar para trás momentos bons e ruins. Apenas levo a dor de não ter dito não,ou sim.
Me sinto um pouco triste.Um pouco cansado. Cometendo os mesmos erros do passado. Por pouco não feri à quem sempre me quis bem. Até eu conseguir quebrar aquilo que não se tem conserto.
A vida é uma opção à se escolher. A que menos doer pode não estar certa. O que posso te dizer é: Não siga setas.
Não procure um jeito fácil de fazer tudo dar certo. O sucesso é proporcionalmente inverso à sua pretensão.
O universo pode estar em suas mãos e você imerso em coisas fúteis. Que nem mesmo um ladrão julgaria úteis a sua vida.
Servida em pequenos copos suas lágrimas vão secar.
Ao que você se refere é um pouco mais que pele. O que te fere é um pouco mais do que sinto. À cada orgasmo intenso.À cada espasmo suspenso. Se existo logo penso que já não me pertenço.
Fantasmas são passado. Mágoas são diferentes. Tudo se cura com um copo d'água e amigos suficientes.
Sei que não voltaremos, meu amor. Ao menos tento convencer-me de que sei. Hoje, o que se foi é o que me causa dor. Imagino o que do futuro nunca saberei. Mas se por acaso quiseres voltar. Saibas que é só teu o meu coração. Meus braços já não imploram para você ficar. Porém, o meu corpo ainda sente a tua mão. Exilaremos o nosso instinto. Perdidos, forjaremos a direção. Mas repito, não calarei o que sinto. Saibas que é só teu o meu coração. E o meu perdão. Atravessaremos a noite. Abraçaremos o nosso açoite. Trocaremos o reflexo do sim pelo não. Dessa forma, ficaremos unidos. Amigavelmente ressentidos. Compartilharemos a enganação. Utilizarei o meu último verso. E o seu sentido confesso. Para dizer que é só teu o meu coração. O meu coração. E o meu perdão.
“If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite.” [1] Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.
Não havia tempo. Não havia dor. Só havia o necessário. Nem mesmo os caminhos cruzavam outros caminhos. As palavras não ecoavam. Não havia culpa. Não havia nem mesmo o verbo haver, com toda a sua impessoalidade. Não havia sorte, não era preciso. A palavra “não” era desconhecida. A palavra “medo” seguia o rastro dessa. Não havia lucidez. Só havia o momento. Não era preciso alegria, não era preciso senti-la. Não existiam mitos. Não existiam crenças. Não havia entrada. Não havia saída. Não existia o ter. Só bastava ser. Então existiria tudo. Existiríamos todos.
[1] William Blake. “The marriage of Heaven and Hell”.
Nem sempre encontramos caminhos. Nem sempre nos vemos sozinhos. Nem sempre a mentira é a culpa. Nem sempre aceitamos a desculpa. Nem sempre as palavras falam. Nem sempre os sentidos calam. Nem sempre o olhar encalça. Nem sempre a verdade disfarça. Nem sempre nos aceitamos. Nem sempre nos concretizamos. Nem sempre a alma vive. Nem sempre a fé sobrevive. Nem sempre nos extinguimos. Nem sempre nós existimos.
Os fogos de artifício a fizeram sonhar. As diferentes nuances ficaram pintadas em seu rosto. A tristeza foi-se embora, apagou-se. As luzes dançaram sobre o seu corpo. Toda a sua amargura fora iluminada. Não consigo descrever o brilho que havia em seus olhos. Ela nunca foi tão bonita. Ela nunca sentiu-se tão bonita, tão colorida. Os fogos cessaram-se, mas ela continuou viva. Personificou-se o reflexo. Seu rosto iluminou-se de tal forma que senti-me cego. Ela parecia uma pintura impressionista. Impressionante. Nunca esquecerei aquele instante. Reluzente, ela iluminou-me os olhos, tocou-me os sentidos. Há tempos eu não via aquele brilho perdido. Iluminei-me com aquele sorriso. Da noite, fez-se o dia. .
Finges que tudo passa, que o esquecimento basta. Finges que tudo foge. Roubaste-me a minha sorte. Fortalece-te o que me dói. Brincas com o que me corrói. A mentira virou verdade. A pureza tornou-se vaidade. A dúvida tornou-se a resposta. Confesso: fizeste-me morta. Mas não ergas o teu troféu. Não há atalho para o céu. Nem, tampouco, para o paraíso. Onde escondestes o meu sorriso?
E se o tempo não passasse no caminho de nós dois? E se você tentasse? E se não existisse o depois? E se o tempo fosse amigo do que poderíamos ser? E se o tempo andasse contigo e nos fizesse crer? Talvez eu mostraria a verdade do meu ser.